top of page

Maestro da complexidade: Aprendizados de liderança em um mundo “Multi-IT”

Atualizado: 11 de nov.


ree

Marcelo Oliveira, Diretor de Estratégia da Verity, reflete sobre liderança em TI e os desafios de orquestrar ecossistemas multinuvem.


Ao longo da minha trajetória conduzindo transformações digitais em organizações complexas, de bancos a empresas de meios de pagamento, vivi de perto tanto o potencial quanto os limites da computação em nuvem. Vi projetos que, de fato, reduziram custos e aceleraram a inovação. Contudo, também testemunhei situações em que a promessa de simplicidade colidiu com a realidade de operações críticas, exigências regulatórias e a inevitável convivência com sistemas legados. Essa experiência ensinou-me uma lição fundamental: migrar para a nuvem não é um fim em si mesmo, mas parte de um desafio maior: governar a complexidade sem sufocar a inovação. Meu papel como líder de tecnologia evoluiu de um gestor de recursos para um orquestrador de ecossistemas, harmonizando plataformas, equipes e imperativos de negócio.


O que temos hoje é um mosaico tecnológico onde nuvens públicas, privadas e ambientes locais (on premises) convivem de forma estratégica. Essa não é uma tendência passageira, mas uma resposta pragmática a forças irrefreáveis de mercado, regulação e operação. A estratégia multinuvem tornou se o padrão para empresas que buscam resiliência, evitando a dependência de um único fornecedor e acessando as melhores soluções para cada necessidade específica.


Longe de obsoleto, o ambiente on premises reafirma seu valor como a espinha dorsal de arquiteturas híbridas, garantindo baixa latência para aplicações críticas, custos previsíveis e, crucialmente, controle para conformidade regulatória. A Inteligência Artificial, especialmente a generativa, atua como um catalisador primário para este movimento, pois suas massivas demandas de treinamento e inferência raramente são supridas de forma ótima por um único provedor. A computação de borda (edge computing) complementa o ecossistema, aproximando o processamento de onde os dados são gerados. E, pairando sobre tudo, a soberania de dados tornou se uma força inegociável; legislações como a GDPR e a LGPD ditam não apenas como, mas onde os dados podem residir, tornando a arquitetura de TI uma decisão geopolítica.


Paradoxo: Os custos dessa liberdade

Se a multinuvem é o caminho, sua gestão introduz paradoxos importantes. A flexibilidade vem com custos ocultos: as taxas de transferência de dados entre nuvens (egress fees), a proliferação de recursos ociosos e a necessidade de novas camadas de ferramentas de gerenciamento podem erodir o ROI. A promessa de simplicidade da nuvem precisa ser equilibrada com uma disciplina rigorosa de FinOps.


Operacionalmente, a complexidade aumenta. Gerenciar ambientes distintos, cada um com suas APIs, modelos de segurança e ferramentas, amplia a margem para o erro humano. A segurança também é desafiada: um ambiente distribuído expande a superfície de ataque e exige uma aplicação de políticas consistente e unificada, algo notoriamente difícil de alcançar.


Nesse cenário, o modelo de liderança precisa ser reinventado. O executivo não pode mais agir como um controlador centralizado, mas sim como um orquestrador. Com as próprias áreas de negócio adquirindo soluções de tecnologia (shadow IT), o papel do líder de TI muda de provedor para integrador, garantindo que o ecossistema funcione de forma coesa e segura.

Termos antes restritos ao vocabulário técnico, como latência, interoperabilidade e custo de inferência de IA, tornam se métricas de negócio. Eles afetam diretamente a experiência do cliente, a margem financeira e a velocidade da inovação. Empresas pioneiras como Netflix e Spotify já trilharam esse caminho: elas combinam múltiplas plataformas e padrões abertos, concentrando energia naquilo que gera vantagem competitiva, em vez de tentarem construir tudo internamente. Elas orquestram!


A Cultura como Catalisador Final


No fim, a dimensão mais decisiva é a cultural. A tecnologia só cumpre seu potencial transformador quando a organização a reconhece como o próprio tecido do negócio, não como uma função de suporte. A visão da TI como um centro de custos deve ser substituída por uma compreensão madura de que tecnologia é estratégia. Cabe ao líder criar o ambiente para que equipes multifuncionais, unindo negócio e tecnologia, floresçam, acelerando a inovação com governança e segurança.


Depois de tantos projetos, erros e acertos, minha convicção é clara: o futuro da liderança em tecnologia não está em dominar cada detalhe técnico, mas em criar as condições para que um ecossistema complexo e distribuído funcione em harmonia. O líder de hoje é um maestro: define os princípios, estabelece a governança e equilibra inovação com controle. E acima de tudo, ele deve assumir a complexidade com serenidade para transformar operações intrincadas em organizações resilientes, inovadoras e, fundamentalmente, mais humanas.


Comentários


bottom of page