ESG Digital: o pilar que falta na agenda dos conselhos
- Marketing Verity

- 26 de ago.
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Atualizado: 10 de nov.

Nas últimas décadas, o ESG consolidou-se como uma lente para avaliar o impacto das empresas no mundo. Mas, à medida que a tecnologia se infiltra em todos os aspectos dos negócios, surge um novo vértice invisível e subestimado: o ESG Digital. Não basta ser verde, socialmente responsável e bem governado se o uso da tecnologia compromete privacidade, reforça desigualdades ou gera riscos éticos que não são geridos com a devida seriedade.
Algoritmos que discriminam, dados vazados, automações que desumanizam o atendimento, ferramentas que expõem o consumidor a riscos silenciosos. Tudo isso está acontecendo agora em empresas que, ironicamente, têm comitês de ESG bem estruturados. A pergunta que se impõe é: como é possível falar em governança sem governar os sistemas que tomam decisões dentro das empresas?
O ESG tradicional sempre se baseou no conceito de materialidade: o que é material para os stakeholders deve ser prioridade da gestão. Hoje, a digitalização é material. E deve estar no escopo do ESG. Privacidade de dados, impacto algorítmico, segurança cibernética, inclusão digital, transparência de sistemas automatizados. Tudo isso é parte do valor (ou do risco) que uma empresa representa para a sociedade. Negar essa realidade é comprometer a legitimidade do próprio ESG.
Boa parte dos conselhos ainda discute temas digitais com superficialidade. O debate sobre IA, cloud, plataformas, cibersegurança ou digital ethics muitas vezes é delegado ao comitê de tecnologia como se fosse um assunto técnico, e não estratégico. Mas quando sistemas moldam comportamentos, automatizam decisões e interferem diretamente no valor da marca, é o conselho que precisa assumir a responsabilidade máxima pela coerência digital da empresa.
As companhias que já incorporaram práticas sólidas de ESG Digital colhem benefícios claros: fortalecem a confiança de clientes e investidores, reduzem riscos regulatórios, aumentam a resiliência cibernética e se posicionam como líderes em ética tecnológica, o que, em um cenário de crescente fiscalização, pode significar vantagem competitiva duradoura. Por outro lado, aquelas que ainda tratam o tema como periférico correm riscos tangíveis no curto prazo: prejuízos milionários com vazamentos de dados, crises de reputação difíceis de reverter, exclusão de cadeias globais de fornecimento e até perda de valor de mercado.
Estamos entrando em uma nova era, em que a ética digital será tão importante quanto a ambiental, a inclusão tecnológica será tão relevante quanto a inclusão social, e a transparência algorítmica será exigida por consumidores, reguladores e investidores. O ESG digital é o elo entre reputação e tecnologia.
O ESG não é sobre reconstruir o pacto entre empresas e sociedade. E, nesse pacto, não há mais espaço para empresas que escalam tecnologia sem escalar responsabilidade. É hora de evoluir. De incluir o D, de Digital, na agenda estratégica. De entender que a governança de impacto também passa pelo código.



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