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Foto do escritorMarketing Verity

A operação Verity no Canadá é citada no Valor Econômico

Para aquecer o mercado de trabalho e gerar impostos, país tem buscado empreendedores estrangeiros, e os brasileiros estão na mira


Décima maior economia do mundo, uma posição atrás do Brasil, o Canadá tem feito um esforço para convencer empresas brasileiras a abrirem filiais em alguma das suas cidades.

Embora faça parte do chamado primeiro mundo, o país sofre com a baixa densidade populacional e tem procurado caminhos para aquecer o mercado de trabalho e elevar a arrecadação de impostos. E uma das alternativas é atrair companhias estrangeiras, com os empreendedores brasileiros na mira.


O primeiro argumento para despertar o interesse de empresários do Brasil é mostrar que o Canadá é mais aberto a imigrantes do que os Estados Unidos, que seria um destino mais óbvio para quem deseja estar presente em economias desenvolvidas. Além de menos burocrático para entrar, o mercado canadense ainda seria, de quebra, um belo atalho geográfico para acessar os consumidores dos EUA, uma vez que os dois países contam com uma série de acordos de boa vizinhança.


E o Canadá, eles defendem, não seria uma porta de entrada apenas para a América do Norte. O país tem 14 acordos de livre comércio que envolvem 51 países em todo o mundo e pode se tornar um caminho mais viável do que o Brasil para conquistar clientes no mercado europeu.


Segundo o ranking Doing Business, desenvolvido pelo Banco Mundial, o Canadá ocupa a terceira posição no critério abertura de empresas, a melhor classificação para um país do G7. "No Canadá, dá para abrir uma empresa em um dia e não é necessário fazer aporte financeiro para começar", diz Marcelo Tavares, responsável pelo escritório em São Paulo da agência de atração de investimentos do governo canadense.


Segundo ele, ao longo dos últimos cinco anos, cerca de 20 companhias brasileiras abriram operações em cidades canadenses, entre as quais a Meta, uma empresa especializada em transformação digital e fundada no Rio Grande do Sul há três décadas; a Linda Lifetech, uma healthtech criada em Barueri e focada em diagnóstico de câncer de mama; e, mais recentemente, a Verity, também de transformação digital, que acabou de desembarcar em Toronto.


A Meta, por exemplo, chegou ao Canadá no fim de 2019, meses antes do início da pandemia, e escolheu se instalar em Kitchener, localizada em Ontario, a mesma província de Toronto, e onde também está um dos escritórios do Google. A ideia de expandir para fora do Brasil partiu de uma provocação dos conselheiros da empresa, que disseram aos fundadores da Meta que o negócio, embora estivesse rodando bem, corria o risco de ser engolido pela rápida transformação pela qual o mercado de tecnologia tem passado, caso não se mexesse logo para inovar.


"Fomos à Alemanha, para o Canadá, Israel, China e Estados Unidos, para ver o que estava acontecendo, e foi chocante. Percebemos que, antes de alguém fazer a disrupção no segmento, nós teríamos que fazer algo", disse ao Pipeline o CEO da Meta, Telmo Costa. "Viemos ao Canadá porque eles têm um ecossistema de tecnologia muito forte, estão na América do Norte e são um povo realmente aberto ao mundo, o que é o oposto dos Estados Unidos."


Costa diz que um dos planos da companhia é aproveitar o ecossistema de inovação que está bem avançado no Canadá para começar a desenvolver uma frente na empresa voltada para inteligência artificial e levar os frutos para os outros países onde tem clientes. "No Canadá, como as coisas já estão bem evoluídas, nós acreditamos que vamos arrancar mais rápido.”


Além de querer estar presente em lugares onde a inovação pulsa, a Meta acredita que a internacionalização é um passo importante para colocar em prática o plano de abrir capital. A empresa não fala abertamente sobre prazos para ir à bolsa, mas tem conversado com bancos. A companhia também não revela dados de faturamento, mas tem cerca de 3 mil funcionários e cerca 300 clientes, entre eles a SAP, a Volvo e a Dell.


Do total de clientes, 37 deles são da América do Norte. Segundo o CEO, a presença no Canadá tem ajudado também a fechar com empresas dos EUA e até atraiu um cliente no Reino Unido. "Se eu estivesse somente no Brasil, esse cliente não iria me ligar para falar comigo. Tem uma questão cultural que contribui", afirma.


Com mais de três anos de presença no Canadá — e com uma pandemia no meio — a operação da Meta na América do Norte já se paga, e todo o lucro é reinvestido internamente. E, como parte desse processo de internacionalização, a empresa tem procurado mostrar a outras companhias, em especial aquelas com as quais se relaciona no Brasil, que o Canadá pode ser de fato um bom destino.


No fim de junho, a Meta levou uma comitiva de executivos de startups e empresas já consolidadas do Rio Grande do Sul, como Banrisul, Randon e SLC Agrícola, para ir ao Collision —evento de inovação em Toronto — e participar de uma agenda paralela com representantes do governo canadense, da Câmara de Comércio Brasil-Canadá, fundos de venture capital e empreendedores que já estão instalados.


A agenda incluiu encontros até com a Universidade de Toronto — que se dispõe a ajudar com pesquisas para inovação e como centro de formação de mão-de-obra —, com uma consultoria especializada na abertura de negócios no Canadá e com um escritório de advocacia que ajuda estrangeiros a conseguir o visto de imigrante para empresários, no Startup Visa Program.


O interesse da Meta em mostrar esse caminho a outras empresas brasileiras é tentar contribuir para a melhora do mercado no qual está inserido, o que também a beneficiaria — uma lição aprendida com Jorge Gerdau, um de seus clientes. "Tu só vais crescer e se dar bem se o contexto inteiro se der bem", ele afirma. "Algumas das startups que trouxemos aqui provavelmente farão negócios conosco, podem fazer parte de uma solução que vamos levar ao cliente ou potencialmente iremos investir nelas."


Das startups levadas pela Meta, pelo menos duas já deram início ao processo para tentar se estabelecer no Canadá: a Slice, uma fintech de banking as a service, e a Zero Defect, de transformação digital. A Zero Defect tem conversado com o governo canadense para ver uma incubadora no país. A Slice, por sua vez, contou nesta semana com um incentivo adicional: a startup venceu um concurso de startups promovido pelo fundo de venture capital da Meta e com isso ganhou um investimento de R$ 1,5 milhão, prêmio que também envolve mentorias e acesso a clientes — fatores que devem ajudar na internacionalização.


A fintech, que também já deu início aos estudos, acredita que o Canadá pode ser a base para entrar na América do Norte e está começando a estreitar relações com a Meta para aproveitar a operação que a empresa já tem no país. "Para explorar essas sinergias, é um grande ponto positivo eles estarem no mercado canadense", afirma o CEO e fundador da Slice, Sergio Irigoyen.


Uma das dúvidas das startups que pensam em ir para o Canadá está relacionada à cidade que escolherão para se instalar. No país, as províncias e cidades oferecem estímulos fiscais diferentes que precisam ser levados em conta na hora de definir. A depender do local escolhido, os incentivos podem se acumular, ao somar benefícios do município, da província e do país. Mas também é importante se atentar aos mercados que são mais desenvolvidos em cada lugar. Enquanto a região de Ontario é mais forte em manufatura avançada, por exemplo, o Quebec tem a oceanografia como um diferencial.


Mas nem tudo são flores ao chegar ao Canadá. Entre empreendedores brasileiros que estão no país, há relatos de que o visto para empresários pode demorar mais do que o esperado. Um empresário que aplicou para o visto em setembro de 2021 foi informado à época que o tempo era de espera era de 12 a 16 meses. Já se passaram quase dois anos e até agora nada. Hoje, o tempo de espera estimado é de 37 meses.


Enquanto o visto não chega, o imigrante vai vivendo sem os benefícios de ter o documento, o que pode elevar o custo de vida, como a mensalidade da escola dos filhos. Mas também é possível aplicar para o visto de empresário estando no Brasil e só se mudar quando tudo já estiver aprovado.


As vantagens de estar no Canadá, porém, podem compensar qualquer contratempo. A Linda Lifetech, por exemplo, está no país desde abril, e um dos fundadores da companhia, Rubens Mendrone, está animado com o que tem visto.


Entre os fatores positivos que ele aponta no país estão o fato de que o governo subsidia empresas que contratam pesquisadores ligados a instituições de ensino e que as companhias só pagam impostos quando dão lucro, sempre após o fim de cada ano, dando mais fôlego para os gestores organizarem financeiramente os negócios enquanto não atingem o breakeven. "Tenho mais giro no caixa", diz.


Matéria publicada por Valor Econômico


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